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altavam
exatos vinte e cinco luas para o casamento de Fausto com uma linda signorina chamada
Jullyanne Drago, filha de um dos nove nobres de nosso reino, o amargo Giulliano
Drago, o mais influente conde do principado, o Conde Drago >> Ser
ciccione, como foi apelidado pela classe subalterna da cidade<< era
um velho baixinho e rechonchudo, o rosto arredondado e coberto por rugas
profundas, que se pronunciavam ainda mais pelo seu jeito rabugento, o nariz lhe
tomava metade da cara, e faltava um punhado de dentes em sua boca, isso
explicaria o fato de cuspir ao falar, o pior era a imensa peruca que ostentava
com orgulho, pois, era um sinal de nobreza, o fato era que o acessório
deixava-o com a imagem, de um modo geral, achatada, o que tornava sua figura um
tanto quanto engraçada, mas muito ridícula.
Este nobre conde de características tão desagradáveis, concedera a mão de sua
filha, a bela Jullyanne a Fausto, o mais novo cavaleiro da corte. Disse bela,
pois foi assim que retrataram a figura de Ms. Drago no quadro pintado a
óleo que foi entregue a meu irmão depois do pagamento do dote, a formosa dama
da tela, tinha a pele clara e radiante, os olhos eram castanhos e gentis, a
face corada e um sorriso tímido podia ser percebido em seus lábios rosados e
pequeninos, maravilhosos cabelos loiros caiam sobre o colo numa trança delicada
e perfeita, eu diria que a afetuosa criatura estampada na pintura fora adotada
se for compará-la ao ogro que era seu pai.
Fausto era um rapaz cobiçado pelas moças
da cidade, acabara de fazer a iniciação e os votos de lealdade na
cavalaria - a Ordem das Adagas Negras – e com isso recebera um bom pedaço de
feudo junto com o cargo, onde já possuía servos que trabalhavam apenas no
cultivo de grãos e cereais. Ele era magro, mas tinha um físico em forma o que
combinava com sua altura avantajada, a pele queimada pelo sol não destoava com
o tom dourado de seus longos cabelos, os olhos eram tão negros quanto os meus,
esta era a única coisa que tínhamos em comum: olhos extremamente negros. Era um
mestre na esgrima e cavalgava como ninguém, me ensinara tudo o que sabia
inclusive a ler e a escrever além de um pouco de latim. Treinávamos todos os
dias e meu tutor era por demais exigente. Fazíamos tudo em segredo.
Absolutamente ninguém sabia do verdadeiro treinamento que Fausto me concedera,
pois era estritamente proibido às mulheres realizarem tarefas como caça,
montaria ou que dominassem técnicas de guerra. A esgrima, em particular, era
exclusiva para os homens. Qual o castigo para a dama que ousasse desobedecer
tais proibições? Morte na forca! Então meu treinamento era algo que eu e Fasto
guardávamos a sete chaves.
No meio do treino de doma estava exausta
pelo esforço que desprendi para tentar amansar a fera em forma de cavalo que
Fausto havia me dado de presente. Batizei o alazão de Furioso, havia mais de
duas semanas que eu vinha tentando montar no animal e nenhum progresso havia
obtido.
– Os cavalos mais xucros se tornam
os mais fieis depois de domados.
Dizia meu irmão tentando me animar.
Por mais que eu tentasse não conseguia
conquistar a confiança do cavalo que era um belo exemplar de um Árabe
puro-sangue. Uma coisa é certa esta raça é muito antiga, provém do Oriente e
foi criada em zonas desérticas ou semidesérticas.
Os cavalos Árabes são os pais de todas
as raças, e o sangue dos seus gloriosos antepassados corre nas veias de quase
todas as raças de cavalos modernos. O Árabe de puro-sangue foi utilizado
durante os tempos para melhorar e afinar muitas raças.
O deserto moldou o cavalo Árabe, durante
a dinastia dos Califas de Bagdade. Durante quase mil anos de vida nômade em
meios hostis o cavalo Árabe foi-se transformando. A vida ao lado dos beduínos
os converteu em especialistas em correr longas distâncias em pouco tempo. Foi
assim que ganhou a sua velocidade e robustez.
Estes cavalos são rápidos, manejáveis,
valentes e resistentes. O Árabe de puro-sangue tem uma pele muito fina. Possui
um porte de 145 a 155 cm em média e a sua pelagem pode ter
qualquer tipo de cor, sendo o preto a cor mais rara para a raça e Furioso era o
cavalo mais negro que eu tinha visto na vida. Seu pelo era sedoso, o seu
pescoço arqueado com uma cabeça particularmente expressiva e um perfil côncavo.
O seu peito era firme e descoberto, as suas costas eram curtas e amplas e a sua
traseira era alta e também firme, era certamente o melhor cavalo que alguém
poderia possuir e era extremamente grata a meu irmão por este presente que ele
insistia em chamar de mimo.
- Continuarei com o adestramento amanhã.
Prometi, ainda ofegante pelo esforço
desprendido nas tentativas de conseguir que Furioso não me visse como uma
ameaça, tentativas que continuavam frustradas. Fausto apenas assentiu.
- Falta menos de um mês, como se senti?
Fausto expressou confusão, como se não
soubesse do que eu estava falando.
- Seu casamento, está ansioso?
- Ah! É isto? Bem, não sei o que
esperar, nunca a vi não estou apaixonado e não a amo a única coisa que tenho da
senhorita Drago é aquela pintura que você já conhece.
- Bem – parei por um minuto para
escolher melhor as palavras e por fim indaguei - e isto não te assusta?
- Luna, apenas você me assusta – disse
ele com ar brincalhão – muito pelo contrário maninha, estou frustrado.
- Por quê?
- Porque eu gostaria de ter escolhido
minha esposa sozinho e vejo que esta união traz benefícios apenas para o nosso
amado pai e eu terei que dormir com uma completa estranha pelo resto de meus
dias, neste ponto invejo os camponeses que se casam por amor.
- Isso me parece medo – Disse em tom de
desafio.
- Não é – prosseguiu insistindo – mas é
como se eu não tivesse controle sobre a minha vida e eu dou o nome de
frustração a isto.
- Sentirei sua falta – disse com os
olhos marejados.
- Não seja chorona, seu treinamento vai
continuar da mesma forma. Não vou te abandonar, prometo-te!
Sorri para ele e fomos para casa, pois
já estava na hora da minha aula de latim.
Ps. Dedico este trecho a minha doce
amiga Viviane Vicino. Gratidão!