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nfim
amanheceu. Era um domingo surpreendentemente claro para o mês de junho, chegara
o dia mais esperado da vida de Fausto, o bendito casamento com Jully, já havia
alcunhado assim minha futura cunhada, gostava da moça antes mesmo de conhecê-la
e devo confessar que também estava ansiosa. Fausto suava como nunca, estava pálido
e não parava de tremer.
- Oh céus, essa hora não passa.
Dizia ele andando de um lado para o
outro em passos curtos e apressados. Era encantador vê-lo tão fragilizado, tão
receoso pela demora, a cerimônia estava com uma hora de atraso e todos os
convidados estavam à espera no nosso jardim.
- Acalme-se Fausto, pensei que você
estive “frustrado” com esse casamento – disse imitando seu tom de voz – daqui a
pouco fará buracos no gramado...
Ainda estava o repreendendo quando ouvi
se aproximar ao longe várias carruagens.
- Fausto, se apresse!!!
Gritou papai.
Fausto parecia ainda mais pálido e seu
nervosismo lhe conferia um charme em especial, ele trajava a honrada vestimenta
preta de um cavaleiro da Ordem das
Adagas Negras, na parte de trás da capa que pendia até ao chão, o brasão do
reino de Zanette, um lince com duas espadas cruzadas, ainda não descobri o
porquê desse símbolo, já que linces não são animais do nosso país e nem de países
próximos a nós, mas algo me dizia que em breve eu descobriria muito mais do que
apenas aquilo.
Fausto trazia embainhada sua espada,
amuleto quase que inseparável, mas que no contexto de seu rosto, porte físico e
trajes davam uma harmonia e demostrava a seriedade do verdadeiro herói que ele
era.
O Arauto anunciou a chegada de Lord
Giulliano e sua família, um comboio de cinco carruagens luxuosíssimas se
aproximava lentamente, todos pasmaram ao ver o quão poderoso era o seu clã, os
cavalos cavalgavam em uma sincronia perfeita enfileirados em linha reta. O
primeiro condutor assoprou uma espécie de apito, no mesmo instante todas as
carruagens pararam.
Ao centro, bem de frente ao tapete,
estava a mais bela carrozza dentre as outras. Era do modelo Coche, extremamente
dourada e perfeita para a ocasião. Consistia em uma caixa suspensa através de
correias de couro. Assim, sem o contato direto da caixa com as rodas, evitava a
trepidação incômoda aos passageiros.
As caixas eram idênticas às utilizadas
nos carros medievais sem suspensão, com cobertura de arcos ultrapassados, que
formavam igualmente as paredes laterais. A caixa era aberta, mas estava
protegida por um veludo em um tom de vermelho sangue, como não tinha portas o
seu acesso se fazia por uma abertura existente em cada um dos lados, através de
um estribo.
Da primeira viatura saíram o senhor
Drago e sua esposa, esta logo se juntou a meus pais no altar e o senhor, o
Conde sisudo, ficou próximo a coche central. Percebi que o restante das pessoas
que compunham a caravana eram os cavaleiros do exercito particular do fidalgo.
Os militares se organizaram em pares, formando um corredor, cada um de um lado,
todos fardados e cada um empunhando a sua espada.
Em sinal de respeito e honra os cavaleiros
em um alinhamento perfeito bateram continência dizendo:
- Bendita seja a ascendência da família
Manzzote!!!
Neste instante senti meus pelos eriçarem
de emoção e lágrimas brotaram em meus olhos, aquilo foi realmente emocionante e
pude perceber que todos os presentes também tiveram a mesma sensação que eu.
Depois de uns instantes, os dois que
estavam próximos à carruagem abriram o tecido, de dentro saltaram dois
trompetistas. Os instrumentos de sopro eram de marfim puro, com um bocal em
forma de taça formando uma única peça. Eles começaram a anunciar a chegada da
noiva, um passo de cada vez tocando uma melodia que não consigo mais me
lembrar, então ao chegarem ao meio do caminho pararam e deram um giro de 360
graus.
Neste instante, o oficial mais antigo
deu o comando para que os demais levantassem suas espadas virando um de frente
para o outro cruzaram as pontas de suas armas, formando um primoroso teto de
aço. E então o mais esperado momento aconteceu, Jully apareceu e a visão que
tive me deixou maravilhada.
O vestido era lindo como de uma
rainha francesa, muito longo e rodeava
de forma perfeita as curvas da moça, feito de cetim num tom delicado de marfim,
grande mangas boca de sino caiam em três babados delicados que passava da linha
do joelho, o decote seguido de amarras deixava à mostra a pele do colo, um
estilo surpreendentemente único, em cima vinha um corset azul real com
detalhes em ouro que foi alongado até cobrir o vestido inteiro e morrer numa
calda de quase dois metros, no pescoço ostentava um colar em ouro branco com um
pingente de lápis lazuli, a pedra tinha ranhuras douradas próprias da joia que
era envolta pelo mesmo ouro da correntinha. Na orelha uma gota encravada por
diamantes que brilhavam muito, mesmo estando sob o véu em renda azul celeste a
cor símbolo da pureza.
O dia estava lindo e combinava muito com
a figura gloriosa de Jully, e Fausto não escondeu a admiração ao ver sua prometida
descendo da carruagem aveludada, o sorriso da jovem foi sincero ao trocar o
primeiro olhar com Fausto, ela tropeçou na barra do vestido ficando ruborizada
pelo pequeno deslize, mas logo o conde Giulliano apoiou-a e a conduziu até Fausto
que a tomou pela mão e se dirigiu ao altar.
Com o Concílio de Westminster em 1076 e
por tradição os casamentos deveriam ser realizadas com a benção de um
sacerdote, mas com o frágil estado de saúde de nosso amado pároco, Eufebio Bolcchi,
ficou a cargo do jovem e recém chegado padre Girardo presidir a cerimônia
matrimonial.
Fausto voltou a seu tom normal de pele,
mas estava diferente agora. Não sei dizer, agora ele tinha um brilho no olhar
que eu desconhecia e por mais incrível que pareça, estava mais bonito que
antes, tinha uma felicidade que lhe saltava aos olhos. E neste momento
sosseguei meu coração, pois percebi que eles ficariam bem e seriam muito
felizes.
Após a cerimônia e a troca de alianças a
festa começou tinha muita comida, muito vinho e a música não poderia faltar,
então Fausto e Jully fizeram as honras da primeira dança, enquanto todos
olhavam admirados pela beleza que ambos possuíam.
-Eu já sei teu nome signora – disse
Fausto ao girar sua esposa - mas eu quero que tu me digas. – completou
trazendo-a para junto de seu corpo.
- Jullyane Mansotti meu signore - falou
isso timidamente, ficando levemente corada.
-Devo revelar-te que fiquei extremamente
feliz em conhecê-la.
- Digo o mesmo Sir. Mansotti.
- Vejo que tens pouca intimidade com as
palavras.
- Apenas não quero cansar-te os ouvidos,
mas saiba que hoje é o dia mais feliz de minha vida.
Respeitosamente Fausto tomou-lhe a mão
esquerda, fez uma reverência pomposa e então deu um carinhoso beijo na aliança
que há instantes atrás ele mesmo colocara no anelar de sua senhora.
- O prazer é todo meu – falou com brasa
nos olhos.
Todos os presentes ofereceram uma salva
de palmas em homenagem aquele sentimento que começou a brotar no coração
daqueles jovens.
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