sexta-feira, 18 de julho de 2014

À primeira vista...


E
nfim amanheceu. Era um domingo surpreendentemente claro para o mês de junho, chegara o dia mais esperado da vida de Fausto, o bendito casamento com Jully, já havia alcunhado assim minha futura cunhada, gostava da moça antes mesmo de conhecê-la e devo confessar que também estava ansiosa. Fausto suava como nunca, estava pálido e não parava de tremer.
- Oh céus, essa hora não passa.
Dizia ele andando de um lado para o outro em passos curtos e apressados. Era encantador vê-lo tão fragilizado, tão receoso pela demora, a cerimônia estava com uma hora de atraso e todos os convidados estavam à espera no nosso jardim.
- Acalme-se Fausto, pensei que você estive “frustrado” com esse casamento – disse imitando seu tom de voz – daqui a pouco fará buracos no gramado...
Ainda estava o repreendendo quando ouvi se aproximar ao longe várias carruagens.
- Fausto, se apresse!!!
Gritou papai.
Fausto parecia ainda mais pálido e seu nervosismo lhe conferia um charme em especial, ele trajava a honrada vestimenta preta de um cavaleiro da  Ordem das Adagas Negras, na parte de trás da capa que pendia até ao chão, o brasão do reino de Zanette, um lince com duas espadas cruzadas, ainda não descobri o porquê desse símbolo, já que linces não são animais do nosso país e nem de países próximos a nós, mas algo me dizia que em breve eu descobriria muito mais do que apenas aquilo.
Fausto trazia embainhada sua espada, amuleto quase que inseparável, mas que no contexto de seu rosto, porte físico e trajes davam uma harmonia e demostrava a seriedade do verdadeiro herói que ele era.
O Arauto anunciou a chegada de Lord Giulliano e sua família, um comboio de cinco carruagens luxuosíssimas se aproximava lentamente, todos pasmaram ao ver o quão poderoso era o seu clã, os cavalos cavalgavam em uma sincronia perfeita enfileirados em linha reta. O primeiro condutor assoprou uma espécie de apito, no mesmo instante todas as carruagens pararam.
Ao centro, bem de frente ao tapete, estava a mais bela carrozza dentre as outras. Era do modelo Coche, extremamente dourada e perfeita para a ocasião. Consistia em uma caixa suspensa através de correias de couro. Assim, sem o contato direto da caixa com as rodas, evitava a trepidação incômoda aos passageiros.
As caixas eram idênticas às utilizadas nos carros medievais sem suspensão, com cobertura de arcos ultrapassados, que formavam igualmente as paredes laterais. A caixa era aberta, mas estava protegida por um veludo em um tom de vermelho sangue, como não tinha portas o seu acesso se fazia por uma abertura existente em cada um dos lados, através de um estribo.
Da primeira viatura saíram o senhor Drago e sua esposa, esta logo se juntou a meus pais no altar e o senhor, o Conde sisudo, ficou próximo a coche central. Percebi que o restante das pessoas que compunham a caravana eram os cavaleiros do exercito particular do fidalgo. Os militares se organizaram em pares, formando um corredor, cada um de um lado, todos fardados e cada um empunhando a sua espada.
Em sinal de respeito e honra os cavaleiros em um alinhamento perfeito bateram continência dizendo:
- Bendita seja a ascendência da família Manzzote!!!
Neste instante senti meus pelos eriçarem de emoção e lágrimas brotaram em meus olhos, aquilo foi realmente emocionante e pude perceber que todos os presentes também tiveram a mesma sensação que eu.
Depois de uns instantes, os dois que estavam próximos à carruagem abriram o tecido, de dentro saltaram dois trompetistas. Os instrumentos de sopro eram de marfim puro, com um bocal em forma de taça formando uma única peça. Eles começaram a anunciar a chegada da noiva, um passo de cada vez tocando uma melodia que não consigo mais me lembrar, então ao chegarem ao meio do caminho pararam e deram um giro de 360 graus.
Neste instante, o oficial mais antigo deu o comando para que os demais levantassem suas espadas virando um de frente para o outro cruzaram as pontas de suas armas, formando um primoroso teto de aço. E então o mais esperado momento aconteceu, Jully apareceu e a visão que tive me deixou maravilhada.
 O vestido era lindo como de uma rainha francesa, muito longo e  rodeava de forma perfeita as curvas da moça, feito de cetim num tom delicado de marfim, grande mangas boca de sino caiam em três babados delicados que passava da linha do joelho, o decote seguido de amarras deixava à mostra a pele do colo, um estilo surpreendentemente único, em cima vinha um corset azul real com detalhes em ouro que foi alongado até cobrir o vestido inteiro e morrer numa calda de quase dois metros, no pescoço ostentava um colar em ouro branco com um pingente de lápis lazuli, a pedra tinha ranhuras douradas próprias da joia que era envolta pelo mesmo ouro da correntinha. Na orelha uma gota encravada por diamantes que brilhavam muito, mesmo estando sob o véu em renda azul celeste a cor símbolo da pureza.
O dia estava lindo e combinava muito com a figura gloriosa de Jully, e Fausto não escondeu a admiração ao ver sua prometida descendo da carruagem aveludada, o sorriso da jovem foi sincero ao trocar o primeiro olhar com Fausto, ela tropeçou na barra do vestido ficando ruborizada pelo pequeno deslize, mas logo o conde Giulliano apoiou-a e a conduziu até Fausto que a tomou pela mão e se dirigiu ao altar.
Com o Concílio de Westminster em 1076 e por tradição os casamentos deveriam ser realizadas com a benção de um sacerdote, mas com o frágil estado de saúde de nosso amado pároco, Eufebio Bolcchi, ficou a cargo do jovem e recém chegado padre Girardo presidir a cerimônia matrimonial.
Fausto voltou a seu tom normal de pele, mas estava diferente agora. Não sei dizer, agora ele tinha um brilho no olhar que eu desconhecia e por mais incrível que pareça, estava mais bonito que antes, tinha uma felicidade que lhe saltava aos olhos. E neste momento sosseguei meu coração, pois percebi que eles ficariam bem e seriam muito felizes.
Após a cerimônia e a troca de alianças a festa começou tinha muita comida, muito vinho e a música não poderia faltar, então Fausto e Jully fizeram as honras da primeira dança, enquanto todos olhavam admirados pela beleza que ambos possuíam.
-Eu já sei teu nome signora – disse Fausto ao girar sua esposa - mas eu quero que tu me digas. – completou trazendo-a para junto de seu corpo.
- Jullyane Mansotti meu signore - falou isso timidamente, ficando levemente corada.
-Devo revelar-te que fiquei extremamente feliz em conhecê-la.
- Digo o mesmo Sir. Mansotti.
- Vejo que tens pouca intimidade com as palavras.
- Apenas não quero cansar-te os ouvidos, mas saiba que hoje é o dia mais feliz de minha vida.
Respeitosamente Fausto tomou-lhe a mão esquerda, fez uma reverência pomposa e então deu um carinhoso beijo na aliança que há instantes atrás ele mesmo colocara no anelar de sua senhora.
- O prazer é todo meu – falou com brasa nos olhos.
Todos os presentes ofereceram uma salva de palmas em homenagem aquele sentimento que começou a brotar no coração daqueles jovens.

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